quarta-feira, 21 de setembro de 2011

PRIMAVERA

"Desperta...levanta-te, não te detenhas até encontrar a meta."
J.F. Alexander

Primavera

Cecília Meireles



A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.


Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.


9 comentários:

Mariângela Maciel disse...

Oi Ieda querida

Vim agradecer a visita , volte sempre, será muito bem vinda!
Essa poesia é linda, a Cecilia meireles é demais!!!!!

Fique com Deus! bjs

Kedna disse...

Adoro flores, pena que no ceará só tem duas estações: Verão e "sol a pino". Mas nem por isso deixarei de gostar das flores, mesmo no calor do nordeste elas podem florescer, não com tanta intensidade, mas florescem!

teste disse...

Oi minha linda!
Eu segui os passos 2 e até agora não recebi nenhuma confirmação se estou participando...
Ai amiga estou ansiosa sabia?
Já postei em meu blog, me faça uma visita"

Mil beijos!

lenalima disse...

Olá amiga!!!
passando pra te desejar um ótimo final de semana!!!

que seja bem vinda a primavera!
abraços!!!

Emidia disse...

À tia Iêda acho que fiz coisa errada me desculpe não foi esta minha vontade mas estas orelhas faz tudo errado,não sei nen como me descupar.bjos

Asenath disse...

Emocionante esse texto. Sou louca por flor, qualquer flor. Acho até que o meu nome devia ser FLOR. bjus!!!

Sonia Facion disse...

Oeeeeeeeeeeeee...

Obrigada pela visita e aguardo anciosa a terceira parte.


Bjktas

Sonia

Casa das Bonecas de Pano de Ipiabas disse...

Olá querida emocionante, o que postou foi fundo na alma para mim foi por que amo a Natureza e respeito ela e os bichos que o dia inteiro cantam no meu jardim, fazem ninhos, maravilhosa eu nasci nessa linda estação, apesar de gostar demais do outono temos que nos curvar a primavera ela é linda bjs e uma linda semana Leila

Anônimo disse...

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